quarta-feira, 11 de março de 2009

Instinto primário


“O Amante” de Marguerite Duras é o segundo livro que leio em que o pedófilo atraído por raparigas na fase da puberdade é justificado, como que desculpado. Em “Lolita”, Vladimir Nabokov apresenta um professor de francês que fica atraído por rapariguinhas como fossem estas a causa do seu distúrbio e ela sabendo do domínio que tem, provoca-o a seu belo prazer.
O best-seller de Duras escrito já passados bastantes anos sobre os factos reais, apresenta-nos a visão do lado feminino sobre o fascínio que o desabrochar do corpo tem sobre o homem, neste caso um chinês, com praticamente o dobro da idade dela. Não uma idade demasiadamente ofensiva, digamos que se fosse um velho talvez ela o repelisse. Mas é tão sincera na sua abertura com o leitor, que nem a isso sabe responder e põe em dúvida que não seja apenas por ele ser rico e ela pobre, que tenha decidido se lhe entregar, mentido ao dizer-lhe que tinha dezassete anos. Por sua vez ele correspondeu com o seu sincero amor num enlace impossível para a época, entre um chinês e uma branca. Essa virgem menor, em que ele hesitava em tocar e que é impelido com o que ela lhe diz: faz comigo simplesmente o que fazes com as outras mulheres. Inevitavelmente este capricho traz benefícios à família pobre, e num acaso em que ela entrega à mãe desesperada, dinheiro que tinha recebido após um acto de amor, interroga-se se não estará a prostituir-se, já que não sente nada por ele além de uma ténue amizade.
Esta intimidade partilhada pela autora, permite dissertar sobre casos de pedofilia, em que tal como no “Ballet Rose”, onde determinadas mães mal o corpo das filhas dava nas vistas, as empurravam para os homens ou então fazem vista grossa preocupando-se em retirar dividendos, alguns até de cariz sexual. Além de algumas começarem bem cedo a serem estimuladas para aparecerem nos bancos da escola, com roupas reduzidas por baixo, assim como por cima, para daí conseguirem boas notas daqueles professores menos escrupulosos.
Curiosamente, após a leitura do livro que é um pequeno volume, a RTP2 apresentou o filme com o mesmo nome, que é de tal forma fiel a transmitir esta sua aventura durante a puberdade, que convém não perder.

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