quarta-feira, 30 de junho de 2010

José Saramago, a eternidade ganha pela sua obra

O nosso actual Presidente da República tem grande dificuldade em fazer a separação entre o que são deveres de Estado e a sua posição ou gosto pessoal. Não que o facto de se fazer representar nas cerimónias fúnebres do único escritor português galardoado com o prémio Nobel, tenha sido uma má decisão, até porque seria deveras hipócrita a pessoa que andou atrás do Papa por tudo o que era lado e que aqui sim esteve mal, ainda por cima num país em que à luz da Constituição todas as religiões têm perante a Sociedade os mesmos direitos e deveres. Seria curioso ver Cavaco Silva deixar passar os prazos para a promulgação do Decreto Lei sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, caso Sua Santidade tivesse feito a maldade de prolongar a sua estadia. Também se interrompesse as férias nos Açores só no intuito de agradar ou parecer bem, acabava por onerar o Estado em despesas de deslocação, além de que seria uma atitude que caso o próprio escritor se pudesse manifestar, desdenharia e reprovaria.
José Saramago que como qualquer outro bom profissional de eleição, é mais considerado fora deste país do que cá dentro, viveu a sua vida às avessas com Deus e por tanto escrever sobre Ele, acabou por Lhe dar a importância que não Lhe queria dar. Por isso mesmo, dirão os crentes, que o Todo Poderoso lhe perdoou e deixou-o morrer dignamente em casa, que é no fundo o que comum dos mortais deseja quando chegar a sua hora.