terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Livro que seja difícil de largar, só pode ser bom

Dos mais badalados não foi o primeiro que li. No ano passado tive a oferta do Rio das Flores e foi por esse que conheci a força narrativa do Miguel Sousa Tavares e foi o suficiente para ficar curiosíssimo em ler o Equador.
Acabei de o ler e é outro romance espectacular em que mais uma vez o leitor é agarrado e introduzido num ambiente histórico ou político em que se nota o resultado de uma pesquisa aturada, só apetecendo sair de lá quando chega ao fim.
Pessoa controversa é este nosso jornalista, mas que como romancista só pode suscitar o aplauso de todos que assim vêm aparecer nestes tempos modernos alguém ao bom estilo do Eça.
Estou desejoso do próximo que oxalá também seja para devorar.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

100 anos dos quais 66 para eruditos

Esta semana, aquando do aniversário do cineasta Manuel Oliveira, a RDP/RTPN no programa Antena Aberta, prestou-lhe uma ligeira homenagem.
Foram ouvidos vários telefonemas desde conhecidos políticos até ao comum dos ouvintes que o felicitaram pelos seus cem anos e aos quais todos nós desejamos chegar, caso nos mantenhamos com a mesma forma física que ele apresenta.
Ainda bem que eu tive a oportunidade de ouvir os intervenientes no programa, porque sinceramente estava passar um atestado de estupidez a mim próprio por não conseguir ter a faculdade de acabar de ver os filmes que aplicadamente me propunha a seguir aproveitando um ciclo da RTP2. Aliás, também estou a ter o mesmo problema (oxalá que não seja grave) para conseguir ler um livro do António Lobo Antunes, pois os diálogos são sempre inconstantes com reflexões (in)temporais pelo meio. E pensava eu que era difícil ler-se Saramago.
Então lá foram dadas as opiniões que convergiram no sentido de que os seus filmes são uma forma de arte, algo que é preciso entender e não muito comercial e até da qual um realizador como Clint Eastwood tirou ensinamentos.
É curioso que o mais falado e apreciado por todos os ouvintes foi o Aniki-Bobó realizado nos anos quarenta e a partir daí chovem sempre subsídios para filmes dos quais ninguém fala. E quando refiro falar, é quando todos nós dizemos uns aos outros se já viste aquele filme, não percas.
Será que estes 66 anos correspondem à pobreza do nosso cinema? Já que se catalogam os filmes de difícil entendimento, não tivemos nós o direito ou a sorte de ter um Felini, um Almodóvar ou um Claude Leclouch dos quais pelo menos sobre algumas películas nós comentávamos e discutíamos? Cá ficámos pelo Aniki-Bobó e que mesmo assim muito gente não faz ideia o que é. Se calhar à única cópia, não foi feita a conversão audivisual que mereceram os filmes do António Silva.
Este também é o resultado dos estrangeiros mandarem neste povo de fraca auto-estima, em que os iluminados com a atribuição de prémios, decidem o que nós devemos gostar ou não, colocando ao mesmo tempo um tampão sobre os mais capazes, que até mesmo (nunca se saberá) lhes possam a vir fazer frente.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Equilíbrio, sempre tão difícil de manter

Nos Contemporâneos, o boneco o Chato caricatura um deficiente motor, que até por norma são pessoas inteligentes e ponderadas. De todas elas, esta deficiência pertence à classe daquelas mais cruéis, em que o ser humano tem a perfeita noção e o entristece a má impressão que causa a quem o vê, e por vezes as gargalhadas involuntárias que provoca com os seus gestos descontrolados.
Todavia, está provado em diversos estudos, que não é a brincar com a sua incapacidade que o deficiente fica ofendido. Pelo contrário, como qualquer pessoa que se julga normal, ele acha graça a essa frontalidade, mas o que detesta é por exemplo, o caso em que uma pessoa que seja coxa e lhe pedem desculpa quando alguém à sua frente disse naturalmente em conversa fluida a frase “Mais depressa se apanha um coxo do que um mentiroso”.

Agora a brincadeira em que se envolva o Chato e que não tenha o mínimo de bom senso, é deveras de muito mau gosto e perigoso. Muitos milhões de cristãos neste país haveriam de achar muito boa ideia a da Manuela Ferreira Leite, de seis meses sem democracia se assim se evitasse esta afronta aos seus costumes, assim como a de alguma paróquia a ganhar dinheiro pelo aluguer do espaço que ajudou à veracidade da cena.
Não professo qualquer religião mas consegui interiorizar que foi de um total desrespeito para quem é religioso, apesar de achar o texto em redor de um padre num confessionário deveras rico em piadas e bem interpretado, até de muitos furos acima daquele texto que há poucas semanas o Gato Fedorento construiu também envolvendo a Igreja e que tanta polémica causou.