quinta-feira, 26 de março de 2009

A desunião faz a fraqueza

O rescaldo desta segunda final da Taça da Liga trouxe para o campo desportivo o pior ambiente que se possa imaginar para a véspera de um jogo tão importante e mesmo decisivo que a Selecção Nacional vai disputar contra a Suécia. E note-se que já não é a primeira vez, que numa altura em que todos os adeptos devem estar unidos numa causa comum, eis o surgimento de uma desestabilização e ainda por cima através de um troféu que ao longo da prova não ligaram nenhuma.
Uma sucessão de tristes acontecimentos fizeram criar uma espécie de bola que os escaravelhos gostam tanto de levar às costas: grande penalidade mal assinalada que nos leva a perguntar se aqueles auriculares servem para alguma coisa ou serão para ouvir chamadas dos telemóveis; a incontrolada reacção de alguns profissionais, que se tivessem ganho nos pontapés da marca das grandes penalidades, ficavam calados; a conferência de imprensa do Benfica, que vem a por a nu, porque é que eles próprios quando fazem protestos (que até para o Governo fizeram) é com o objectivo de condicionar os juízes para os próximos jogos e nesta conferência até meteram o Porto ao barulho que está em outra galáxia para defrontar o campeão europeu; o Pereirinha armado em Cruijff (muito pão ainda terá que comer) a rebaixar a selecção cabo verdiana que tão bem conta deu de si; e por último (pelo menos até agora) o mal fadado Carlos Queirós, que há catorze anos num apuramento já nos deixou ficar no pau da roupa, expulsou o Pereirinha e o Rui Pedro de um Torneio criado para fazer a vontade ao Alberto João, de ter uma selecção de futebol da Madeira sabe-se lá com que dinheiro. (Não sabemos nós outra coisa)

sexta-feira, 20 de março de 2009

A História sempre se repete


Só nos Estados Unidos podia surgir um filme (que por acaso é um comentário) excepcional como a categoria de Fahrenheit 9/11. Os Hugos Chaves ou Eduardos dos Santos a serem alvo das acusações que aqui são feitas, reduziam o realizador Michael Moore a pó. No entanto, o Governo Norte Americano também não tem que se preocupar muito a proteger a sua imagem, pois têm lacaios de países amigos que se encarregam disso. Por cá, por exemplo, um filme tão badalado no circuito comercial chega à televisão estatal para passar duas vezes fora de horas, uma das quais às três da madrugada no Canal 1.
Este filme começa por pôr em dúvida a legalidade da primeira eleição de George W. Bush, mostrando a indignação da comunidade negra quanto à contagem dos seus votos. Para isso, vários negros membros representativos, afim de exporem as suas legitimas razões exemplificativas da má contagem, dirigem-se ao Senado para pedirem a um qualquer senador, que intercedesse para obrigar a uma recontagem de votos. Nem um, aprovou o apoio a essa transparência e só bastava um. É como se todos os senadores tivessem feito um pacto entre eles.
É realçada as boas relações da família Bush e a de Bin Laden, ao ponto do clã Laden ser mandado embora logo após os atentados de 11 de Setembro, sem serem interrogados para se conseguir alguma pista do paradeiro do mais famoso terrorista.
Destaca o esfregar de mãos de empresários sem escrupulos, a aplaudirem a guerra para daí retirarem dividendos do petróleo.
Mostra interpelações a membros do Senado, que a todo o custo tentam esquivar-se a responder à pergunta, porque é que os filhos deles não são mobilizados, isto em contraste com a apresentação de grandes campanhas junto das famílias desfavorecidas, para que os filhos se alistem com promessas de uma vida melhor.
Também são divulgadas as imagens de milhares de cruzes brancas nos cemitérios assim como dos estropiados, tal como nos habituámos a ver desde a guerra do Vietname. É este hábito, diga-se indiferença que é alarmante. Até se conseguir que fosse feita a retirada das tropas do Vietname, muitas manifestações violentas tiveram que ser feitas e muitas canções de intervenção repetidamente cantadas. O filme Nascido a 4 de Julho com Tom Cruise, é um bom exemplo desse triste período, em que se procurava a sensibilidade das pessoas.
Agora toda esta carnificina parece fazer parte de um jogo de computador, a que as televisões têm acesso e nos entra em casa, olhando nós para ela de uma forma enjoada, para logo mudarmos de canal fartos de ver a mesma coisa.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Instinto primário


“O Amante” de Marguerite Duras é o segundo livro que leio em que o pedófilo atraído por raparigas na fase da puberdade é justificado, como que desculpado. Em “Lolita”, Vladimir Nabokov apresenta um professor de francês que fica atraído por rapariguinhas como fossem estas a causa do seu distúrbio e ela sabendo do domínio que tem, provoca-o a seu belo prazer.
O best-seller de Duras escrito já passados bastantes anos sobre os factos reais, apresenta-nos a visão do lado feminino sobre o fascínio que o desabrochar do corpo tem sobre o homem, neste caso um chinês, com praticamente o dobro da idade dela. Não uma idade demasiadamente ofensiva, digamos que se fosse um velho talvez ela o repelisse. Mas é tão sincera na sua abertura com o leitor, que nem a isso sabe responder e põe em dúvida que não seja apenas por ele ser rico e ela pobre, que tenha decidido se lhe entregar, mentido ao dizer-lhe que tinha dezassete anos. Por sua vez ele correspondeu com o seu sincero amor num enlace impossível para a época, entre um chinês e uma branca. Essa virgem menor, em que ele hesitava em tocar e que é impelido com o que ela lhe diz: faz comigo simplesmente o que fazes com as outras mulheres. Inevitavelmente este capricho traz benefícios à família pobre, e num acaso em que ela entrega à mãe desesperada, dinheiro que tinha recebido após um acto de amor, interroga-se se não estará a prostituir-se, já que não sente nada por ele além de uma ténue amizade.
Esta intimidade partilhada pela autora, permite dissertar sobre casos de pedofilia, em que tal como no “Ballet Rose”, onde determinadas mães mal o corpo das filhas dava nas vistas, as empurravam para os homens ou então fazem vista grossa preocupando-se em retirar dividendos, alguns até de cariz sexual. Além de algumas começarem bem cedo a serem estimuladas para aparecerem nos bancos da escola, com roupas reduzidas por baixo, assim como por cima, para daí conseguirem boas notas daqueles professores menos escrupulosos.
Curiosamente, após a leitura do livro que é um pequeno volume, a RTP2 apresentou o filme com o mesmo nome, que é de tal forma fiel a transmitir esta sua aventura durante a puberdade, que convém não perder.