quinta-feira, 22 de março de 2012

Transportes, um serviço público

Foi com certa nostalgia que na Trafaria me pus a olhar para o edifício agora degradado da que foi a antiga empresa de transportes Piedense. Lá ainda se lê “Empresa de Camionetes Piedense Lda” e à parte de cima do que foi uma das garagens, mora uma família num apartamento. É curioso que havia uma garagem filial no centro de Almada e a sede não ter sido colocada na Costa da Caparica. Julgo que tenha a ver com a força de trabalho na altura estar muito centralizada na Piedade, zona fabril por excelência e ribeirinha tal como a Trafaria, sendo a Costa na altura um ponto muito afastado de pouca gente, sobretudo pescadores, não havendo a moda da praia.
A força de trabalho estava presente e as empresas estavam lá para as movimentar de forma a que todos fossem servidos. Agora que as pessoas perdem os empregos e por isso deixam de ter que se deslocar, é natural que os transportes públicos tenham menos passageiros e por isso menos receita, além do aumento brutal do preço dos combustíveis. Ainda por cima esta situação, tem a agravante da mentalidade do empresário ganancioso, que sempre apresentou má qualidade nos transportes com o lema de quanto mais abarrote de gente, maior é o lucro. Presentemente o Metro reduziu as carruagens e veja-se por exemplo a linha verde, que às horas de ponta os passageiros vão que nem sardinha em lata. Na ótica de fazer molhadas de pessoas, cortam-se percursos aqui e acolá para as rentabilizar, só que as pessoas lentamente desmobilizam e procuram outras alternativas levando a que as carreiras simplesmente sejam extintas. Por este andar os barcos das ligações fluviais no Tejo, passaram só a ser de recreio para turistas. Para que não tenhamos cá aqueles meios de transporte que vemos nas imagens que vêm de África ou Índia onde as pessoas andam penduradas ou metidas em carrinhas de segurança duvidosa, tem que se fazer um estudo inteligente sobre o melhor aproveitamento dos transportes adaptando-os às necessidades do contribuinte.
Tanto os bilhetes como os passes, por dá cá aquela palha estão sempre a aumentar, agora o que é preciso é que ainda por cima as pessoas não fiquem pior servidas e para isso a reformulação das carreiras tem que de ser feita, levando tal em linha de conta. Provavelmente há pontos nas cidades por onde as pessoas se deslocam, que sejam mais abrangentes e sirvam como plataformas para receberem potenciais passageiros de outros locais mais dispersos. E é nesses locais sem trazer mais custos, que os ainda poucos trabalhadores ou reformados devem ser recolhidos e trazidos para interfaces com mais gente. Se o comboio da ponte sobre o Tejo ainda mais contribuiu para a pouca adesão aos barcos e as carreiras tiveram que ser reduzidas, então os autocarros e o MTS têm que derivar o transporte para a estação do Pragal, onde por sua vez a Fertagus tem cais disponíveis com linhas para iniciar um desdobramento nas horas de ponta de forma a que os utentes não sejam entalados com aqueles que já vêm de Setúbal, de Amora e de Corroios. É para a procura de boas soluções que é preciso o cérebro capaz de engenheiros ou doutores, que venham para o terreno analisar o problema de forma a não se limitarem a cortar horários e carreiras, refastelados nas suas poltronas prejudicando o cidadão comum.