Em fevereiro ficámos perplexos a assistir à invasão da
Ucrânia pelas tropas russas a mando do carniceiro Putin, melhor reencarnação de
Hitler não podia haver, só que não foi à Polónia. No fundo foi o seguimento
lógico da movimentação de milhares de tropas e material bélico na fronteira
russa e na do seu satélite Bielorrússia. Foram semanas e semanas de frustração e
revolta a ver imagens da destruição e assassínio de um povo que
desesperadamente se meteu em fuga da melhor maneira que pode, pois os alvos
escolhidos não foram apenas da esfera militar, a maioria foram civis e até
hospitais e escolas não escaparam, ficando homens e mulheres militares para defenderem e contra
atacarem à maneira de David contra Golias. A reação ocidental com as sanções
económicas já estava atrasada oito anos desde a invasão da Crimeia pelos
russos, assim como o abate do avião comercial da Malásia cheio de passageiros, a
maioria turistas holandeses. Os interesses económicos (aumentos do PIB, as imposições das famigeradas agências de rating) tudo fizeram para não deixar de
pagar à rica Rússia, esquecendo que esse dinheiro não fazia mais que
alimentar a máquina de guerra.
Mas eis que por acaso na biblioteca deitei mão a um livro
que por estar muito manuseado o escolhi, o que faço quando vou à biblioteca sem
qualquer referência, assim sei que levo algo do agrado de muitos leitores.
Então não é que o livro em questão "Comboio para Budapeste" de Dacia
Maraini, refere no ano de 1956 a invasão russa com os seus tanques à Hungria,
quando esta pretende ser uma nação democrática e deixar o comunismo, como mais
tarde conseguiu a Polónia. No livro é contada o desespero dos revoltosos quando
a USA se limitou a apoio moral e na Itália o forte partido comunista a
negar-lhes apoio, (o que faz lembrar aqui o nosso na situação atual, imagine-se
a montanha de anos já passados e os retrógradas que ainda são) acabando por
milhares de defensores serem mortos, mas sem antes venderem cara a derrota
atirando os cocktails molotov para debaixo dos tanques conforme podiam. Após a
leitura desse romance, procurei outro já de propósito sobre o tema guerra
"A Companhia" de Robert Littell. Este é um calhamaço daqueles tipo
bíblia com letra minúscula e tudo que mostra é os dois lados da
espionagem/contra espionagem tanto na CIA como no KGB. Também aqui é fielmente
reproduzida o desalento húngaro e de outras tantas revoluções pela democracia, em
que a USA lhes retirou o tapete. Muitas famílias húngaras ainda devem estar
destroçadas pelo que se passou, daí que ultimamente o resultado das eleições foi
favorável ao mesmo governante que de democrata pouco tem e é nitidamente pró
Putin. Percebe-se porque é que não quiseram arriscar, por uma mais ampla
liberdade numa espécie de geringonça contra o poder instalado.
E é
nestas leituras que interiorizo que pouca resposta se pode esperar do lado
ocidental e assistir às macabras notícias apenas acaba por ser um exercício de
puro masoquismo. A Rússia de Putin continuará a fazer o que bem lhe apetece
ameaçando a seu belo prazer, pois o polícia Estados Unidos principal defensor
da democracia, está demasiadamente comprometido com sucessivas intervenções
militares desastrosas no planeta, a começar pelo o que aconteceu no Iraque.
Para já enquanto este ditador com cara de bebé mafioso continuar no poder a
Europa nunca mais terá sossego e progresso. Fica-se numa enorme dúvida: que
gerações serão precisas para as feridas ficarem saradas?