segunda-feira, 21 de julho de 2014

De bestial a besta

A parte final dos jogos em que os jogadores de ambas as equipas descomprimem, cumprimentando-se e por vezes até trocam as camisolas, é o rescaldo de um final de espetáculo que eu aprecio bastante. Neste caso do Mundial como o único canal aberto que o transmitiu foi a RTP1, que é aquele que consigo sintonizar, tive que ouvir como som de fundo a essas imagens, jornalistas a comentarem de forma odiosa a prestação do Felipe Scolari. Tudo serviu para atacar o homem, como se um dos fatores que contribuem para a magia do futebol, não fosse o imponderável dos resultados e como se a má atuação da equipa de arbitragem não tivesse influenciado o resultado a favor da Holanda. As conquistas anteriormente alcançadas deixaram de contar e foi-se ao ponto de dizer que a nossa boa prestação no Europeu de 2004 foi obra de Mourinho, como se este tivesse formado os jogadores Figo, Rui Costa, Pauleta, Ricardo, Ronaldo, Nuno Gomes, Tiago entre outros. É verdade que um selecionador é beneficiado quando apanha um grupo bem entrosado vindo de outras equipas, sempre assim aconteceu. Lembro-me dos Magriços de 66 com a formação base dos tempos áureos do Benfica. A própria Laranja Mecânica assim apelidada por ser uma máquina a jogar, que beneficiou do Ajax com a estrela Cruyff. A Espanha do Barcelona e agora a Alemanha do Bayern, mas daí a desconsiderar o trabalho de um selecionador como se não fosse importante, só por má fé. Quando se é incompetente realça-se o mau resultado de outros para esconder a própria mediocridade, que foi o que estes jornalistas/comentadores fizeram ao prestarem um mau serviço público. Errou Scolari que com a saída do lesionado Neymar, o Brasil desmoronou-se como um castelo de cartas. Errou Paulo Bento que contrariando os aceitáveis resultados dos jogos amigáveis de preparação (Grécia, México e República da Irlanda), jogos nos quais devido a lesões fizeram-se substituições que foram promissoras, mas depois acabou por apostar na velha guarda como se de um talismã tratasse, com maior realce para um guarda-redes que não sabe jogar com os pés. Agora o que não vale a pena, é destruir e esquecer o que de bom foi feito para atrás numa altura em que todos vibrámos, mesmo aqueles que não são grandes apreciadores de futebol.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Pacto de silêncio

Quando alguém que não estava ao serviço da sua profissão ou que não estava enfermo, morre a altas horas da madrugada numa altura em que o comum dos mortais está a dormir, normalmente o que contribui para essa perca de vida tem contornos pouco claros. Há uns anos atrás quando o presidente do F. C. Porto foi confrontado com um trágico acidente durante a madrugada que envolveu uma viatura de um jogador russo, dizia que não admitia que esse atleta que devia estar em repouso, andasse ali aquelas horas, nem que fosse a passear a pé, pelo que foi multado pelo clube, o que não aconteceria se o caso tivesse acontecido nas chamadas horas de expediente.  
Perante qualquer tragédia os jornalistas sempre esmiúçam o que se passou e principalmente tirar a limpo quais foram as causas que contribuíram para o desastre. Mas quando a desgraça lhes bate à porta calam-se e vão ao ponto de lançar apelos para que todos fiquem calados, que foi o que fez uma jornalista da TVI, provavelmente num momento de pouca lucidez o que é natural perante a abrupta partida de um ente querido, que contra a lei natural da vida se lhe antecipou.
Não é por mero acaso que nós temos tendência e no fundo até exigirmos saber o que se passou, pois faz parte de um instinto primário de defesa para evitarmos que a nós aconteça o mesmo. Também é o que nos leva perante um acidente a abrandar e olhar para tentar perceber o que aconteceu para evitarmos cair no mesmo, sendo até instintivo nos próximos quilómetros seguirmos a velocidade reduzida. Aquela reação espontânea que temos após um excelente período de férias de nos preocupar logo em contar o que de mau aconteceu, também faz parte desse tal instinto que no fundo é ajudar outros humanos a não passarem pelo mesmo. E até os próprios animais quando um da sua espécie morre vão cheirar o que se passou, chegando mesmo os ratos quando percebem que a causa foi veneno, a urinar para cima do que originou para mais nenhum ser atingido.

Felizmente contra estes pactos de silêncio existe a internet, que é um bom antídoto contra os que se querem fazer superiores aos outros, o que com certeza não foi este o caso.