sábado, 26 de maio de 2012

Montargil, a imagem da decadência nacional

Há dezassete anos quando conheci Montargil, era esta uma vila que correspondia à publicidade turística que lhe era feita, em grande parte graças à potencialidade da barragem. Nunca a força politica (PS) da sede de concelho Ponte Sor se entendeu com a junta de freguesia (PC na altura, mas de há dois mandatos para cá é PS) sendo usual a troca de comunicados metidos na caixa de correio dos locatários, nada abonatórios sobre a atuação de uma ou outra força política. Apesar de já não ter encontrado junto à albufeira que confina com a bomba de gasolina (que se denominava SHELL), atividades de lazer que os edifícios ainda abandonados denunciam ter havido, para além das forças de segurança, escola primária, jardim de infância e lar de idosos, encontrei um pequeno hotel charmoso, que apesar de ter entrada pela estrada também estava virado à vila com dois campos de ténis e piscina; um hospital/centro de saúde; uma casa do povo cheia de vida e iniciativas culturais; dois parques infantis, tendo um deles vista privilegiada para a grande extensão de água; estação de correios; duas instituições de crédito; um recinto deveras polivalente que servia de campo para a prática do futebol, para feira mensal e por vezes circo. Tudo isto aconchegado ao centro da vila facilitando a mobilidade das pessoas, as quais como em qualquer parte do país são cada vez mais idosas. O Sr. Lino pessoa cheia de energia e de vontade para impulsionar as mais diversas opções culturais, até foi convidado da RTP num programa de Marco Paulo para expor todo o esplendor da vila. Vivia-se o fim do mandato de Cavaco Silva como chefe de governo e na altura já circulava um abaixo assinado contra o encerramento do hospital e a redução de médicos que eram três. O que estava mal e estagnado ficou na mesma, e o que estava bem, foi delapidado à exceção do referido recinto que foi bem aproveitado para a construção da Escola Básica Integrada, inaugurada por António Guterres que dizia-se ter ido de helicóptero pois as ruas estavam todas esburacadas, situação resolvida nas vésperas das eleições autárquicas seguintes.

Há uns cinco anos atrás o Dr. Taveira Pinto presidente da câmara, esteve a botar discurso no palco da casa do povo (já então decadente) e aberto a perguntas da população. Aí explicou que se quisesse tomar uma medida eleitoralista já a tinha tomado, caso decidisse mandar planar um terreno para ser construído um campo para a prática do futebol. Mas não, no seu horizonte estava algo mais vasto para além do campo, pois seria integrado num complexo desportivo e lazer com piscinas, campo de ténis, parque infantil. A casa do povo onde nós estávamos, seria requalificada onde ficaria a junta de freguesia e ao lado um novo centro de saúde. Tudo isto a ser concretizado com dinheiros da CEE e o acerto com os proprietários dos terrenos do chamado laranjal, lugar subadjacente ao centro da vila perdendo-se nisso os terrenos nobres do centro. Mais disse o responsável da câmara ao então recente deposto presidente da junta, Sr. Amável: que para nós interessados que somos no bem estar e progresso das populações, os partidos políticos não nos servem para mais nada a não ser para nos elegermos. Isto dito numa ótica que todos independentemente da cor politica devemos estar unidos para o bem da vila. Qualquer pessoa está de acordo com este consenso, só que enquanto a Junta não foi do mesmo partido da câmara, até à sede durante os picos quentes do verão nos matavam, atingido o auge de deixar andar uma lixeira até às eleições.

Presentemente no lugar do pitoresco hotel, está agora um mamarracho de hotel totalmente de costas para a vila, com muros altos que mais parece uma prisão e com um exagero de palmeiras altas plantadas num flagrante atentado à paisagem. O hospital oferta de um benemérito acabou, assim como alguns médicos, servindo agora de centro de saúde com todas as limitações como as que há em outros pontos do país e completamente decadente à espera que o outro seja feito. A estação de correios fechou e ficou agora um posto, em paredes meias com a junta. Instituição de crédito, agora só há uma. No complexo desportivo (no tal terreno que era o laranjal) está em vias de ser utilizado o campo de futebol, o anfiteatro e um campo de ténis com os respetivos apoios atrasados. Um parque infantil com equipamento reduzido e caminhos ladeados por árvores recentemente plantadas onde as pessoas podem passear, mas com a grande lacuna de não ter um ponto de descanso com vista para a barragem. Futuramente e atendendo ao afastamento do centro da vila, como ninguém andará ali a passear, acabará o matagal por tomar conta de tudo tal como fossem ruinas abandonadas. Talvez me engane e até sirva para manter postos de trabalho a jardineiros.

Ao ver tudo isto pergunto-me: tirando os campos de futebol / ténis e possível piscina, porquê sacrificar terrenos nobres no centro da vila com outros de difícil acesso no laranjal? Que super-avós terão que ser, para poder levar a pé os netos ao parque, ou irem assistir a um evento no anfiteatro em vez de ser tão perto na casa do povo como era, mesmo que chovesse. Há localidades que se preocupam de ter à sua entrada uma placa a indicar vista panorâmica para chamar visitantes, aqui é o contrário além de nunca se ter promovido as vistas sobre a barragem, retira-se a única existente (como se pode ver na foto) onde também era um parque infantil oferecido por uma outra  benemérita, que está a ser ocupado pelo futuro centro de saúde . Suspeito que o excelente espaço do presente hospital/centro de saúde que depois será substituído, também acabará para ser usufruto de alguns privilegiados. Oxalá que me engane.