sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

100 anos dos quais 66 para eruditos

Esta semana, aquando do aniversário do cineasta Manuel Oliveira, a RDP/RTPN no programa Antena Aberta, prestou-lhe uma ligeira homenagem.
Foram ouvidos vários telefonemas desde conhecidos políticos até ao comum dos ouvintes que o felicitaram pelos seus cem anos e aos quais todos nós desejamos chegar, caso nos mantenhamos com a mesma forma física que ele apresenta.
Ainda bem que eu tive a oportunidade de ouvir os intervenientes no programa, porque sinceramente estava passar um atestado de estupidez a mim próprio por não conseguir ter a faculdade de acabar de ver os filmes que aplicadamente me propunha a seguir aproveitando um ciclo da RTP2. Aliás, também estou a ter o mesmo problema (oxalá que não seja grave) para conseguir ler um livro do António Lobo Antunes, pois os diálogos são sempre inconstantes com reflexões (in)temporais pelo meio. E pensava eu que era difícil ler-se Saramago.
Então lá foram dadas as opiniões que convergiram no sentido de que os seus filmes são uma forma de arte, algo que é preciso entender e não muito comercial e até da qual um realizador como Clint Eastwood tirou ensinamentos.
É curioso que o mais falado e apreciado por todos os ouvintes foi o Aniki-Bobó realizado nos anos quarenta e a partir daí chovem sempre subsídios para filmes dos quais ninguém fala. E quando refiro falar, é quando todos nós dizemos uns aos outros se já viste aquele filme, não percas.
Será que estes 66 anos correspondem à pobreza do nosso cinema? Já que se catalogam os filmes de difícil entendimento, não tivemos nós o direito ou a sorte de ter um Felini, um Almodóvar ou um Claude Leclouch dos quais pelo menos sobre algumas películas nós comentávamos e discutíamos? Cá ficámos pelo Aniki-Bobó e que mesmo assim muito gente não faz ideia o que é. Se calhar à única cópia, não foi feita a conversão audivisual que mereceram os filmes do António Silva.
Este também é o resultado dos estrangeiros mandarem neste povo de fraca auto-estima, em que os iluminados com a atribuição de prémios, decidem o que nós devemos gostar ou não, colocando ao mesmo tempo um tampão sobre os mais capazes, que até mesmo (nunca se saberá) lhes possam a vir fazer frente.

Sem comentários: