quinta-feira, 3 de julho de 2008

Este tecido roto em que vivemos

A sociedade é como um tecido, que se pretende que seja fino. Tem as suas nódoas que mais ou menos se conseguem limpar, mas há outras que por mais que se tente, já não conseguem sair.

O pior é quando este tecido se começa a romper e a abrir buracos. Quando as linhas estão bem entrelaçadas e naturalmente umas se prendem às outras, o tecido está forte e os elos da cadeia mais resistente compensam os que momentaneamente possam surgir mais frágeis. Agora quando em nome da modernidade, produtividade, globalização (e outros nomes que queiram chamar) forçam a que as finas linhas se quebrem, nem até os remendos são uma boa solução.

As crianças e os velhos, são esses elos fracos que em anos passados tinham sempre presente o apoio dos seus entes queridos, pessoas activas na sociedade. Agora uns bébés mal desmamados são metidos em infantários e os idosos enfiados em lares, quer uns quer outros são autênticas prateleiras, cuja qualidade depende do dinheiro que se possa gastar. Eis então as finas linhas quebradas, em que a experiência dos mais velhos não beneficia os mais novos.

Mas para este tecido roto, mais buracos estão a surgir, trazidos pela evolução da técnica. Esta evolução vai acabando com as pessoas activas. Elas ainda jovens deixam os bancos de escola, agora muitas já universitárias, sem terem o que fazer. Há uns quarenta anos havia um leque de postos de trabalho que deminuiram ou desapareceram e passo a descreve-los aleatoriamente: Padarias, onde estão? Poucas, são agora os cafés e pastelarias que vendem o pão. O mesmo querem fazer com os Postos de Correio. Não tarda muito que tenhamos de andar atrás da correspondência em qualquer quiosque (se é que já não é o que se passa em certos pontos do país) ou então, recebemos e enviamos mails. Ah! E Bancos, aquilo é que era uma profissão fina. Agora são poucos empregados a serem explorados até ao tutano, e ainda nos querem meter a pagar taxas no Multibanco. Também tínhamos os TLP, muita gente lá trabalhava. Agora até há uma Empresa de comunicações que apareceu no mercado a dar-se ao luxo de que não precisava de empregados, os quais na publicidade apareciam no ecrã a brincar nas cadeiras de secretária com rodas, a mandar papéis uns aos outros. E não é verdade? É que não precisam mesmo. Qualquer problema é só ligar para um Call Center onde estão encaixotados um inúmero de serviçais pagos a recibo verde, a tratar de todos os problemas levantados pelo incauto cliente. Lembram-se dos cobradores? Eles era da luz, água, gás, bilhetes nos autocarros. E então os Despachantes? Enfim, o culminar desta evolução que nos tira postos de trabalho, está a acontecer com as caixas dos hipermercados a desaparecerem. Sim, aqueles postos de trabalho que os poderosos afirmam que vão aumentar, quando poderem estar abertos todos domingos e feriados. Acredite quem quiser.

Para esta Sociedade não esburacar, em que todos temos que conviver e comer, é necessário que as pessoas tenham ocupação, principalmente os jovens que perigosamente caem no desleixo e cada vez mais se perguntam: Estudar para quê? Como resultado, as escolas transformam-se em centros de divertimento, em que a ofensa corporal é mais uma variante contra o tédio. Assegurar essa ocupação está na mão de quem tem Poder e em consequência disso, Dinheiro. O tal dinheiro que se está a centralizar em determinados Grupos (que de vez em quando crescem com os excêntricos do Euromilhões), pois não necessitam de o despender para pagar salários. A evolução técnica passou a tratar de tudo, mas não consegue tratar do mais importante, a qualidade do Tecido Social e a consequente valorização do ser humano.

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